Bem..eu tenho uma irmã de 16 aninhos, escusado será dizer que toda ela está na fase hormonal mais atípica das nossas vidas, efectivamente esta é a idade em que tudo quer ser descoberto, onde as consequências dos actos são dadas como irrelevantes e nada do que os adultos dizem é verdade...nesta idade pensa-se: "Nãããã, não pode ser assim tão desastroso como eles dizem que pode ser.."
Pelo facto de adolescência ser uma altura que não prima pelo raciocínio é que sou apologista de um tipo de educação onde, desde muito cedo a criança aprenda a definir caminhos, objectivos e para isso é necessário saber, pelo menos, o que não quer ou não gosta. E agora vêm as mentes deste país dizer: "..mas uma criança não sabe o que quer e é o adulto é que tem de ditar as regras.." e eu concordo, em parte. Em parte porque, sim eu concordo que é o adulto que tem de ditar as regras, é o adulto o supremo da autoridade (reparar que não digo austeridade, existe diferenças entre ambas que muitas pessoas parecem ignorar), da educação e inclusão na sociedade da criança. Mas não concordo com o dado adquirido que uma criança não sabe o que quer...sabe, nós é que fingimos que não porque assim é-nos mais fácil empurrar com a barriga o momento do corte do cordão umbilical. Se eu fizer de surda às características independentes que a criança me transmitir, então torno-a mais dependente de mim, torno-a num ser demasiado fiel a tudo o que o pai ou a mãe diz, porque a sua opinião é sempre a mais válida, o que para qualquer progenitor é um sonho até...até que a criança se torne adolescente, porque aí com todo o desequilíbrio hormonal vem aquela vontade imensa de se rebelar, porquê??Porque agora já são crescidos e como tal podem ter direito a opinião, desde que seja diferente da dos pais, claro!!!
E aí começam os problemas, por um lado os pais não querem acreditar que a sua criança já não o é..e que todas as suas atitudes são influenciadas por outros (quantas vezes ouvidos a bela frase: "Ele/a não era assim, mas desde que se juntou ao fulano/a X, Y ou Z...." pois...pois...
A juntar a este dilema dos pais vem o dilema do adolescente (reparar que falo na maioria e não no individual) cujas dúvidas não podem ser questionadas junto dos pais, porque, bem porque isso seria dizerem que não sabem tudo junto de adultos, e isso é algo que na cabecinha deles não pode ser um facto, por isso tenta questionar outros com as mesmas idades, que têm as mesmas dúvidas e cometem exactamente os mesmos erros, originando erros ao quadrado!!!
Como se combatem então estes problemas??Pois..minimizam-se, e na minha opinião não se o faz no momento que eles nos batem na cara, mas antes..muito antes...
Penso eu que se desde cedo fomentarmos a conversa com a criança, obrigando-a a demonstrar os seus ideais, mesmo que estes nos pareçam ridículos, do género: "Para mim o céu devia ser cor-se-rosa porque seria mais bonito" - isto no caso das meninas - estamos a obrigar a criança a pensar, a raciocinar, a argumentar e a eventualmente, com força dos nossos próprios argumentos, a chegar a conclusões. Manter as crianças em redoma de vidro à prova de som não é um bom procedimento.
Nós como adultos temos a obrigação de tornar aquela criança em alguém independente a todos os níveis, portanto temos obrigação de tornar aquela criança em alguém que tome as suas decisões do modo mais consciencioso possível, mesmo que nos custe ter de cortar o tal cordão umbilical mais cedo, mesmo que a tenhamos de a colocar perante as consequências das suas decisões, e.i. uma criança vai ao supermercado com os pais e faz birra porque quer este e aquele produto, normalmente os pais levam a maioria, mas se o obrigarem a escolher e se se mantiverem fieis a este procedimento verão que daí para a frente a criança pensará melhor naquilo que realmente quer, qual é o seu real objecto de desejo, é o chocolate ou o iogurte??e mais, e se forem postas à prova não levando sempre algo que querem então apercebem-se que nem sempre pode ter o que se deseja, o que no final de contas é a nossa vida enquanto adultos.
É meu principio que um dos modos de minimizar a frustração que os adolescentes sofrem quando chegam a essa idade é o de lhes apresentar várias realidades e fazê-los aperceberem-se desde cedo que as suas decisões têm consequências.
Todos os dias lido com crianças, não pelo meu ambiente profissional, mas pelo da minha mãe e é notório o modo como o relacionamento entre adulto e criança se torna efectivo quando aliado ao papel de autoridade (quem manda é o adulto e a criança tem de reconhecer onde estão os limites) é a lado ao papel de psicólogo (sim, o que a criança diz, pensa ou age é importante, muito importante e tem de ser analisado em conjunto).
Bem...veremos se eu quando for mãe serei capaz de me distanciar do lado mais galinha para me colocar no lado mais orientador.