quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Não resisti a publicar...

Exemplos de mentalidade...

Frente a frente

O director de turma iniciou a reunião.
- Boa noite, como sabem, convoquei esta reunião, com todos os encarregados de educação e professores, para se tentar resolver certos problemas da turma. Sobretudo porque nós, professores, começamos a esgotar as soluções.
- Talvez devessem exercer mais disciplina, sugeriu um pai.
- Por exemplo?, perguntou o director de turma.
- Bem, se eles se comportarem mal, podem mandar para a rua.
- Desculpe-me, disse o professor de Geografia, mas ainda esta semana, chamei a atenção a uma aluna que se continuasse com o seu mau comportamento, teria falta disciplinar e ia para a rua. Sabe o que ela me respondeu? Mais falta, menos falta, qual é a diferença? O que quer que responda a isto?Os pais ficaram com um ar consternado.
- Mas ela não pode dar uma resposta dessas, reforçou o primeiro pai.
- Não foi a minha filha, de certeza, comentou uma mãe.
- Os professores já recorreram a essa medida, disse o director de turma. Não tem funcionado. O problema é colectivo e tem de ser abordado de uma maneira colectiva e acordada entre pais e professores. Até para problemas mais simples. Por exemplo, é muito complicado impedir o uso da pastilha elástica na sala de aula.
- Creio que o mal desses alunos, disse o pai do delegado de turma, é o que vêem em casa. Vêem o pai a fumar cigarro atrás de cigarro e depois vêm mastigar pastilha elástica para a sala de aula.

O momento em que uma maré muda de direcção é sempre um momento de suspensão. Os olhos de vários pais desviaram-se dos professores.
- Não percebo o que é que fumar em casa tem a ver com a pastilha elástica na sala de aula, comentou um pai.- Acho o exemplo muito infeliz, acrescentou uma mãe.
- Por favor, disse o director de turma, agradecíamos sugestões. Senão, teremos de enviar alunos em grupo para a rua, se não atenderem ao primeiro aviso de ficarem calados. Ou de qualquer outro aviso. Porque é impossível, em muitos casos, localizar a culpa individualmente.
- Acho que falo por todos, disse a representante dos pais, quando digo que, se a situação se degradou a ponto duma aluna dar esse tipo de respostas, concordamos com essa solução.
-Saliento novamente que este é um problema colectivo. Portanto, a solução é colectiva.
- Creio que compreendemos, disse a representante dos pais, e apoiamos a política de Tolerância Zero proposta.

Passado uma semana, a representante dos pais indignava-se com o director de turma.
- É inadmissível! Ela só perguntou uma coisa que não via do quadro à colega e foram para a rua.
- A professora acabara de avisar que as próximas pessoas que falassem sem pedir autorização, iam para a rua. Tinha ficado acordado uma política de Tolerância Zero, como se recorda.
-Mas ela não estava a perturbar a aula!, disse a mãe. A professora é que, se calhar, não sabe lidar com eles!


texto retirado da revista Sábado, Crónicas de Michaela David

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