Adeus
Vai-te, que os meus abraços te magoaram,
E o meu amor não beija! Arde e devora.
Foram-se as flores do meu jardim.
Ficaram Raízes enterradas, braços de fora…
Vai-te! O luar é para os outros; e os afagos
São para os outros….os que ensaiam
serenatas.
Já a Lua que nos lagos bóia pérolas e pratas
Não nasce para mim, que estou sem lagos.
Quando me nasce, é como um reluzir da
Treva,
Um riso da escuridão
Que na minh´alma ecoa, e que ma leva
Por lonjuras de frio e solidão…
Vai-te, como vão todos; e contentes, de libertos
Do peso de eu lhes não querer trautear mentiras.
Como serias tu, flébil flor de olhos de safiras,
Que me acompanharias nos desertos?
Vai-te! Não me supliques que te minta!
Beijo-te os pés pelo que me oferecias.
Mas teu amor, e tu, e eu, e quanto eu sinta,
Que somos nós mais do que fantasias?
Sim, amor meu: em mim, teu amor era doce.
Premir na minha mão a concha nácar do teu seio
Era-me um bem suave enleio…
Era…- se o fosse.
Vai-te! Que eu fui chamado a conquistar
Os mundos que há nos fundos do meu nada.
Talvez depois reaprenda a inocência de amar…
Talvez…mas aí! depois de que alvorada?
Porque até Lá, é longe; e é tão incerto,
Tão frio, tão sublime, tão abstracto, tão medonho…
Como dar-te a sonhar este sonho dum sonho?
-Vai-te! A tua casa é perto
José Régio
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